LANÇAMENTOs A pianista argentina Paula Shocron apresenta seu novo trabalho, em 22 peças que dialogam com o tarô...
Por Fabricio Vieira
Paula Shocron estreou duas décadas atrás, quando editou o
álbum solista “La Voz Que Te Lleva” (BlueArt, 2005). Não tardou para ganhar
destaque na cena jazzística argentina, se firmando como um dos nomes
imperdíveis da música de seu país. A pianista de Rosario, desde então, levou
sua arte também para o exterior, tendo publicado por selos de destaque do jazz
livre e criativo, como o suíço Hat Hut (“Tensegridad”), o estadunidense Astral
Spirits (“El Templo”) e o polonês FSR (“Diálogos”). Com uma discografia como
líder e colíder que ultrapassa os 20 títulos, Shocron construiu nessas duas
décadas uma obra com múltiplas visadas artísticas, de amplas expressões e
resultados muito instigantes para ouvidos atentos.
Tarot Sonoro: 22 piezas para sintonizar não se trata apenas de um disco solista que você coloca para tocar (claro que pode apenas fazer isso, mas há muito mais coisa em torno dele). É importante ler o texto de apresentação para tentar melhor decifrar essa nova música que nos chega. Possivelmente quem seja iniciado no tarô sinta/absorva/reverbere essa música de uma forma diversa. Como não é meu caso, busquei primeiramente ouvir a música em si, sem pensar nas cartas. Depois, ver a que carta se relacionava cada uma das 22 peças, por meio de seu título – inevitável fazer relações ingênuas, como esperar uma música sombria na faixa “La Muerte” ou algo que emanasse religiosidade em “El Papa”, mas Shocron não seria tão óbvia. Mesmo vendo os nomes de cada peça/carta, o mistério da música segue. E sua hipnótica beleza permanece (pensei que talvez seja uma experiência como a de ouvir os “Etudes Australes”, de John Cage, inspirados nos mapas estelares do Hemisfério Sul; nunca olhei para esses mapas e ouço esta música com interesse há muitos anos).
“(...) hace unos años muy interesada en el tarot me apareció
la pregunta acerca de cómo sería una lectura de las cartas ‘sin palabras’ sino,
‘con sonidos’ o músicas. Cómo nos relacionamos con ellas y dejamos que nos
atraviesen, nos muestren caminos, nos cierren otros, nos espanten, o nos
inviten”, diz Shocron na apresentação do trabalho. “Este tarot sonoro es una
prueba de cómo podría ser ese vínculo de las cartas con la música, pudiendo
haber infinitas interpretaciones, a veces fuera de nuestro lenguaje verbal.”
Ela explica como que da ideia inicial chegou ao álbum: “(...) empecé a hacer
algunas pruebas en vivo, haciendo tiradas del Tarot de Marsella y tocando
improvisaciones en vivo, con una partitura, a modo de mapa, con algunos
disparadores para improvisar. Con el tiempo las músicas fueron tomando forma y
empezaron a volverse composiciones”.
--------
*quem assina:
Fabricio Vieira é jornalista e fez Mestrado em Literatura e Crítica Literária. Escreveu sobre jazz para a Folha de S.Paulo por alguns anos; foi ainda correspondente do jornal em Buenos Aires. Colaborou também com publicações como Entre Livros e Jazz.pt, de Lisboa. Nos últimos anos, tem escrito sobre música e literatura para o Valor Econômico. É autor de liner notes para os álbuns “Sustain and Run”, de Roscoe Mitchell (Selo Sesc), “The Hour of the Star”, de Ivo Perelman (Leo Records), e “Live in Nuremberg”, de Perelman e Matthew Shipp (SMP Records)