Apresentando: Anthony Braxton (IV)




A multifacetada e complexa obra de Anthony Braxton já foi tema de alguns relevantes livros. Essas publicações ajudam a compreender melhor suas ideias e produções, iluminando e/ou dando sentido a capítulos mais obscuros de sua criação artística. Para quem tem interesse em se aproximar mais da obra braxtoniana, é fundamental conhecer esses trabalhos, que ajudam a clarear as intrincadas trilhas do mestre de Chicago.
(por Fabricio Vieira






I think we're really talking about something that's more than jazz. We're talking about an awareness of changing vibrational synergies, an awareness of a change from an ethnic-centric psychology to a composite universal psychology. More and more, it was not about jazz or African-Americans, but rather about being in the world, learning from the different things taking place in the world, and including that information in one's formulation of creativity or information dynamics in general.” (Anthony Braxton)







Forces in Motion: The Music and Thoughts of Anthony Braxton
Graham Lock
412 pgs.
Da Capo Press (1988)



Mais antigo trabalho de fôlego editado sobre a obra de Braxton, Forces in Motion apareceu pela primeira vez no fim dos anos 80. O livro foi gestado a partir do acompanhamento, feito pelo autor, de uma turnê de onze dias do quarteto de Braxton – que contava então com Marilyn Crispell, Mark Dresser e Gerry Hemingway – pelo Reino Unido, em 1985. Bastidores, entrevistas, crítica e notas dos shows compõem o núcleo do livro. Grande testemunho de um período e oportunidade para ver Braxton mais informalmente, fora do palco. Uma cena antológica é quando o autor marca um encontro com Braxton para fazer uma entrevista. Tentando agradar o ídolo e buscando adivinhar como fazer isso, a partir da imagem de gênio que tinha dele, propõe irem a um “bom restaurante vegetariano”, ao que Braxton responde: “Ok... mas não tem um McDonald’s aqui por perto não?”   








New Musical Figurations: Anthony Braxton’s Cultural Critique
Ronald M. Radano
336 pgs.
The University of Chicago Press (1993)




A proposta de Ronald Radano neste seu livro é bem distinta da de Graham Lock. Também tendo entrevistas em sua base, realizadas com Braxton em dois períodos – 82/84 e 89/90 –, ele cria esse estudo artístico-biográfico focando principalmente a história do compositor nas décadas de 1960 e 1970. Partindo do efervescente cenário musical de Chicago nos aos 60, o autor apresenta o percurso de Braxton (seus ídolos, estudos, motivações) em sua formação e na estruturação de seu pensamento e obra, com um resultado muito bem elaborado. O livro é fundamental para desvendar os pilares que fundamentam a obra braxtoniana e compreender os rumos que tomou depois. Apêndides com a ficha da discografia completa (até o início dos anos 90) e com os “pictures titles” das composições complementam o livro.








The Music of Anthony Braxton
Mike Heffey
504 pgs.
Greenwood Press (1996)



O estudo mais complexo publicado sobre a obra de Braxton foi realizado por Mike Heffey nos anos 90. Heffey, que também é músico – trombonista, ele chegou a participar do disco “Eugene” –, se tornou muito próximo de Braxton, sendo um dos maiores conhecedores de sua obra. Pesquisador e professor da Wesleyan University, o autor buscou neste The Music of Anthony Braxton apresentar a música braxtoniana em sua multiplicidade: há, por exemplo, capítulos dedicados apenas a cada uma de suas principais formações (solo, duo, trio, quartet e large ensemble). Outra preocupação de Heffey é clarificar o sistema de catalogação/titulação das peças do compositor, mostrando que não há nada gratuito ali. Disse o próprio Braxton sobre Heffey: “He is the author of the first serious theoretical treatise on my music”.









"Time and Anthony Braxton
Stuart Broomer
176 pgs.
Mercury Press (2009)



Publicação menos extensa e mais recente das dedicadas ao compositor, Time and Anthony Braxton aborda a obra do músico destacando alguns diferentes aspectos, como sua produção solo, a proximidade com a música erudita contemporânea e seu interesse pelos standards jazzísticos, abordando também a relação entre composição e improvisação no universo de Braxton. Menos ambicioso e profundo que os outros livros citados, ele tem como particularidade discutir uma parte da obra braxtoniana mais recente, chegando ao período da “Ghost Trance Music” (GTM) – e talvez seja uma boa entrada a quem deseja se aproximar mais deste complexo artístico. Como escreve o autor: “The Braxton world represent something akin to the solar system with planets revolving around a sun and moons revolving around planets. Hard to observe, the totality of his musical universe expands while its parts become closer together.






 (Anthony Braxton 12+1 Composition 355 @Festival Internazionale di Musica Contemporanea, 2012)